A cada 4 anos, existe uma pauta que retorna ao debate público no Brasil: a corrupção.
Seja em anos eleitorais ou ao estourar algum escândalo, a corrupção é vista por muitos como um dos maiores dilemas brasileiros e, frequentemente, é apontada como a grande causa de todos os problemas do país. O que restaria? Acabar com a corrupção? Percebemos que não é tão simples assim.
Muitos candidatos e candidatas usam o enfrentamento à corrupção para ganhar votos e promover seus próprios interesses, sem apresentar soluções efetivas para esse problema. Por vezes, a pauta é utilizada para desviar a atenção da população da complexidade das desigualdades sociais, reforçando a ideia de que a corrupção é o único e maior mal do país. Escândalos midiáticos monopolizam a discussão e consequentemente a uma cortina de fumaça.
É claro que corromper é uma prática condenável e todo crime deve ser punido, de acordo com a lei. Porém, a forma com que o assunto é abordado, hoje, no debate público, tem gerado, na nossa população, apenas desânimo e descrédito na política. Quantas vezes você não ouviu frases como “políticos são todos bandidos” ou “na política só tem ladrão”? Esses discursos, carregados de moralismo e punitivismo, são combustível para a antipolítica.
O moralismo coloca a corrupção em um nível individual: ela passa a ser entendida como um desvio de caráter, e não como um produto das relações do poder político com o econômico. A pauta vira uma disputa entre o bem e o mal, o que é muito relativo – tudo depende do lado em que você está. Além disso, o punitivismo deixa a opinião pública suscetível à espetacularização – mais desejosa de justiçamentos e linchamentos – do que de justiça social. Uma saída que pode parecer satisfatória, mas é ineficaz.
Independente do posicionamento ou partido, é muito fácil falar de corrupção e cair nesse senso comum. Mas a saída para lutar contra a corrupção não pode ser o ataque à política, em si. O debate só se esvazia e gera uma crescente de desilusões. Então, quais seriam as saídas para essa emergência? Quando lutamos contra corrupção, lutamos a favor de quê?
A trilha que você lê agora tem como objetivo apontar caminhos para que outras narrativas ganhem espaço no debate. Trazemos, aqui, propostas de soluções de comunicação que podem ser usadas na construção de argumentos, narrativas, mensagens, discursos, postagens, manifestos e muito mais, que tenham o poder de dialogar, debater, mobilizar e projetar futuros com seus eleitores e eleitoras.
Não podemos perder a coragem de interferir em conversas sobre corrupção. E precisamos, enquanto povo, mobilizar novas ideias, para esperançar o hoje e resgatar a justiça social no nosso país.
Veja mais na trilha “Rotas de saída para falar sobre corrupção com suas eleitoras”.
Conteúdo revisado em 15 de dezembro de 2023.
Entenda como o eleitorado vê o tema, hoje, e saiba em qual perfil se encaixa o público da sua campanha. Descubra como mobilizá-los para uma conversa sobre soluções.
Corrupção é uma palavra que pode ter diferentes significados, de acordo com o seu interlocutor. Ela pode significar um grande número de práticas, que vão desde pequenos desvios de comportamento até a total impunidade do crime organizado.
Invariavelmente, corrupção é um dos problemas que sempre aparece nas pesquisas de opinião pública como um dos temas que mais afligem a população brasileira.
Por isso, tratamos de mergulhar nesse universo e analisar estudos, pesquisas, reportagens e entrevistas, para entender melhor sobre as diferentes visões que o brasileiro tem sobre o tema. Identificamos 7 narrativas predominantes no debate público, hoje. Veja a seguir:
É possível ver que a maioria das narrativas atuais reforça visões punitivistas, moralistas e antipolíticas. Parece até que estamos navegando em um mar revolto, sem bote salva vidas. A questão é que a continuidade desses discursos só interessa às elites econômicas, que criam e mantêm estruturas corrompidas. Elas propagam e transferem a responsabilidade da negatividade e da falta de esperança para o povo brasileiro.
Assim, o eleitor é propositalmente afastado da política e a corrupção é usada para corroer nossa confiança no sistema democrático. Por isso, é preciso romper com o imaginário do senso comum e fortalecer novas narrativas, que contraponham esses discursos.
A verdade é que o Brasil está lascado, mas ele não é e nem precisa estar! Propomos, aqui, uma orientação do debate, que aborda indiretamente o tema da corrupção. Isso porque falar de corrupção em um terreno em que a visão sobre a política está destruída é infrutífero: não gera mobilização de soluções, apenas endossa a desesperança, o individualismo e a justiça moral.
É por isso que precisamos entender a luta anticorrupção a partir da ótica de uma política ressignificada, com esperança, coletividade e justiça. E a chave está em mudar a forma como enxergamos e falamos sobre as soluções do problema.
Leia mais em “Como falar sobre corrupção sem que ninguém saia da mesa?”
Comunicação também é estratégia. Veja 3 caminhos para dialogar sobre corrupção durante a sua campanha, sem cair na desilusão política ou na “batalha de corruptos”.
Não à toa, corrupção é um assunto que está entre as prioridades das brasileiras e brasileiros, em razão do quanto as narrativas que circulam hoje foram marteladas durante décadas na cabeça da população. Assim, sabemos que mobilizar novos imaginários na opinião pública não é tarefa fácil. Há muito o que se fazer, mas voltar a discutir soluções e criar novas narrativas é, sem sombra de dúvidas, um ponto de partida.
Para isso, precisamos lembrar de que não se faz comunicação só com dados consistentes e argumentos técnicos. Eles são importantes, mas não são tudo.
Como disse o ativista Abdias Nascimento, “o sistema de valores é a espinha dorsal de todas as culturas”. Os valores impregnam nosso espírito criativo e guiam nossas ações diárias. Então, para criar novas narrativas que falem sobre anticorrupção no Brasil, precisamos ressignificar a política, partindo dos nossos valores coletivos.
Pesquisamos, estudamos e testamos 3 caminhos possíveis. As 3 contranarrativas a seguir são uma proposta para começarmos a virar o jogo. Veja, em detalhes, de que forma incorporá-las na sua comunicação de campanha.
Comunicação é estratégia e, por isso, falamos aqui de pautar conversas públicas que nos levem para frente, que falem de soluções, que estejam conectadas aos anseios da população. Em tempo: isso não se dá só nas palavras, mas também no visual, pela força simbólica de imagens e ícones que usamos ao comunicar.
A sugestão é que você substitua a comunicação virulenta sobre corrupção pelos 3 caminhos propostos. Substitua os discursos da antipolítica, do moralismo e do punitivismo pelos valores de esperança, coletividade e justiça social. A saída democrática que propomos é pela retomada do protagonismo popular na política, com a construção de um bem comum para a maioria, com confiança, autoestima e participação política.
Experimente! Só é possível virar o jogo, se não desistirmos de jogá-lo.
Confira 8 dicas para a sua comunicação no período eleitoral. Veja o que fazer para falar sobre corrupção de maneira propositiva, sem cair em erros do senso comum.
A corrupção é apontada como um dos principais problemas do país. As conversas sobre o tema costumam ser moralistas, punitivistas e, sobretudo, anti-políticas. Hoje, o foco está no problema, e não nas soluções. Então, como conversar de maneira propositiva sobre um assunto que é uma desilusão para tantos brasileiros?
Por um processo colaborativo de pesquisa, cocriações e teste de mensagens, chegamos a 3 caminhos de comunicação, que orientam como pautar a agenda anticorrupção pelo viés das soluções. Veja aqui, também, 8 dicas para não errar ao comunicar sobre o tema.