MOVIMENTO POLÍTICO ELEITORAL X EQUIPE DE UMA CANDIDATURA
É preciso evidenciar a diferença entre estruturar um movimento político eleitoral (como a Bancada Ativista) e montar uma equipe para uma candidatura específica (como a Mandata Ativista), pois essas duas coisas podem se confundir.
Um movimento político eleitoral consiste em uma atividade ou um grupo não institucionalizado (diferentemente de um partido político), que atua na esfera política e com finalidade eleitoral – no caso da Bancada Ativista, em prol da eleição de ativistas.
O movimento Bancada Ativista é, exclusivamente, composto por pessoas que não possuem a intenção de se candidatar. Juntas, desenham a missão e as estratégias, para, depois, fazer a seleção das candidaturas com as quais atuarão em parceria.
As ações do movimento são contínuas. Em anos não eleitorais, a Bancada Ativista segue fazendo leituras de contextos, promovendo articulações e estudando estratégias para o próximo ciclo. Atua para influenciar o processo eleitoral de forma mais estrutural. Em anos de campanha, expande o time com novos voluntários e parceiros, que atuam de forma mais pontual e incisiva.
Este guia é sobre como estruturar um movimento político eleitoral, de forma a garantir sua independência, sua liberdade de atuação e sua continuidade para além de um único pleito eleitoral. Alguns tópicos aqui apresentados servem também para equipes de candidatura interessadas em se estruturar e trabalhar de forma organizada. Então, mesmo o seu caso sendo o segundo, vale a leitura.
Dica: mesmo que haja candidatos participando de um movimento político eleitoral, é essencial ter pessoas no núcleo duro do movimento que estejam comprometidas a não serem candidatas. Um movimento que é puxado e coordenado por um candidato tem a tendência a não ser percebido e nem se constituir como movimento, e sim como uma candidatura.
ESTRUTURANDO O MOVIMENTO POLÍTICO ELEITORAL
A Bancada Ativista se entende como um movimento político eleitoral, ou seja, um movimento focado em eleições – e não apenas em uma campanha ou candidatura.
Dica: Foco – Tome cuidado para não se perder em agendas que não são o eixo motriz do seu movimento! As eleições e o sistema político como um todo têm por característica sua transversalidade com diversas agendas e setores sociais. Isso acaba, muitas vezes, gerando confusão sobre quando e como se posicionar. A urgência de achar que é preciso falar sobre tudo que está acontecendo na política do país pode ser péssima para um movimento em formação e tirar o foco do objetivo eleitoral. Um movimento político eleitoral não precisa se posicionar sobre tudo – precisa, sim, se posicionar sobre as eleições e priorizar aquilo que está diretamente relacionado à sua estratégia.
Missão
É muito importante definir a missão do seu movimento político eleitoral, de forma consciente e respondendo adequadamente ao contexto.
Mesmo dentro do campo eleitoral, existem muitas possibilidades de incidência para além da realização de campanhas por candidaturas específicas. Essas possibilidades incluem combater práticas eleitorais ilegais ou injustas, promover mudanças estruturais no sistema eleitoral, criar plataformas educacionais sobre as eleições, dar transparência aos recursos investidos em campanhas, promover auditoria cidadã contra fraudes eleitorais, entre várias outras. Identifique a maior necessidade do seu contexto local ou qual a transformação que o seu time quer fazer.
Missão da Bancada Ativista:
Eleger ativistas para o poder legislativo em São Paulo e apoiar a construção de seus mandatos, promovendo inovações políticas com forte sentido democrático e também atuando por mudanças na legislação que reduzam o impacto das desigualdades nas eleições.
Definição
Após a missão, que é mais genérica, é muito importante você saber definir em mais detalhes o seu movimento. A definição contempla e aprofunda a missão, abrangendo mais categorias dentro do contexto em que atua, como: para quem, para quê, abrangência geográfica, entre outras.
Não existe um formato único de quais informações precisam compor a definição do seu movimento, mas quanto mais clara e detalhada ela for, mais fácil será para traçar estratégias e não se perder com falsas oportunidades durante a construção.
Definição da Bancada Ativista:
A Bancada Ativista é um movimento político eleitoral independente, pluripartidário, construído por voluntários, que atua realizando campanhas para que ativistas sejam eleitos a cargos no sistema legislativo da cidade e do estado São Paulo. Além de contribuir para eleger ativistas, dedica-se ao desenvolvimento de estratégias e táticas de campanha inovadoras, que tenham o potencial de provocar mudanças positivas no sistema eleitoral. Fora do período de campanha, também trabalha por mudanças nas regras eleitorais que aprofundem a democracia e reduzam o impacto de desigualdades nas eleições.
Somos um movimento pluripartidário, independente e voluntário:
Pluripartidário porque entendemos que os ativismos atravessam partidos, e as candidaturas ativistas progressistas não são monopólio de nenhum partido. Além disso, porque não somos contra partidos: acreditamos que partidos, mesmo tendo desafios e problemas, seguem sendo estruturas vitais para o bom funcionamento da democracia.
Ainda, a escolha de ser pluripartidário é estratégica, pois entendemos que o objetivo da Bancada Ativista não é disputar com nenhum partido, mas atuar de forma colaborativa para enfrentar os problemas do nosso país. Nessa mesma linha estratégica, o movimento entende que cada integrante pode decidir se filiar a algum partido e efetivamente participar da vida partidária, o que adensa as relações do movimento com o partido.
O seu movimento não precisa ser pluripartidário, mas ficar restrito a um único partido gera limitações bastante significativas
Sua estratégia fica dependente da estratégia do partido, que pode estar fora do seu controle, e sua capacidade de se comunicar com pessoas que não são apoiadoras desse partido também fica restrita. Você pode acabar se tornando mais uma corrente partidária do que um movimento – o que também é legítimo, mas diferente.
A Bancada Ativista também busca desenvolver formatos colaborativos, pedagógicos e efetivos de campanhas eleitorais. Para tal, vem criando e testando narrativas, estéticas, formas de se comunicar, formatos distintos de eventos públicos, modos de discutir e popularizar os debates sobre renovação política, construção de imagem pública de figuras novas na política, adesão da imagem de pessoas engajadas no movimento eleitoral, entre várias outras possibilidades.
*Sua definiçãoEscreva a definição do seu movimento, buscando dar características mais específicas a ele.
Identidade visual
Um bom movimento precisa de uma identidade visual marcante, que sintetize seu propósito de forma clara e impactante, gere curiosidade e consiga traduzir a essência da sua natureza política.
Recomendamos que a identidade do movimento seja muito bem trabalhada e, idealmente, desenvolvida com a ajuda de profissionais das áreas de comunicação e design. Uma boa identidade ajuda a construir espaço no imaginário das pessoas, despertando interesse e curiosidade, gerando aproximação por afinidades temáticas e conquistando de forma engajada e participativa. É vital também que a marca do movimento se diferencie das identidades usadas nas campanhas dos candidatos apoiados e não se confunda com elas.
A marca da Bancada Ativista surge em alusão às famosas bancadas políticas do Congresso Nacional (como as bancadas ruralista e ambientalista), fazendo uma brincadeira, mas também deixando claro que o objetivo e a expectativa são de uma bancada de ativistas e políticos progressistas. A palavra Bancada revela nosso foco no legislativo, enquanto Ativista diz sobre que tipo de pessoas nós acreditamos que devem ocupar a política.
Relacionamentos políticos
Por se tratar de um movimento político, todos os seus relacionamentos – pessoais ou com coletividades diversas – são também políticos e merecem muito cuidado em suas articulações. Aqui, vamos destacar como se relacionar com dois grupos muito específicos e essenciais ao trabalho que o movimento desenvolve: candidatas e partidos políticos.
Candidatas
Um movimento político eleitoral surge previamente à escolha de quais candidaturas serão apoiadas pelo mesmo, tendo em vista que as candidaturas precisam estar alinhadas a sua missão, e não o contrário. Dessa forma, primeiro, o movimento decide quantos candidatos vai apoiar, quais serão os perfis, qual a representatividade desejada e por quê, quais pautas fazem mais sentido no contexto local, entre outras variáveis. A partir dessa definição de linha estratégica, são buscadas, externamente ou internamente, potenciais candidaturas em sinergia com a sua proposta – sendo que o movimento pode, ainda, decidir incentivar pessoas que topem o desafio de se candidatar, considerando o potencial de relevância de suas figuras em uma disputa eleitoral.
Um ponto muito importante, ao apoiar candidaturas e, especialmente, ao fomentar candidaturas não espontâneas (que não aconteceriam sem um estímulo externo), é oferecer amparo emocional e, se possível, econômico. Ser candidato pode ser muito estressante e custoso. Muitas vezes, isso significa o desligamento temporário ou permanente do seu trabalho, menos tempo para a família e amigos, e, ainda, enfrentamento de preconceitos e agressões decorrentes da aproximação com um universo político-partidário ainda mal visto por grande parte da população.
Outro ponto muito importante na aproximação do movimento político com candidaturas é a pactuação muito clara de tudo o que envolve uma parceria durante a campanha e após a campanha, considerando os dois cenários possíveis: derrota e vitória. É essencial que as expectativas estejam alinhadas e que os acordos dos entregáveis e dos recebíveis esteja claro a todos, para não gerar ruídos durante a parceria. Existem infinitas possibilidades de acordo e negociação, sendo algumas delas:
- Equipe de campanha: o movimento pode ser um grupo que faz campanha complementar e paralela à campanha do candidato ou pode se tornar a equipe de campanha. No primeiro caso, o movimento não é responsável pela integralidade da campanha eleitoral do candidato, que conta com a sua própria equipe, mas também recebe apoio complementar. No segundo caso, a parceria é mais profunda, o que também envolve acordos mais complexos e detalhados. É muito importante estar claro qual a relação estabelecida.
- Contrapartidas: tanto o movimento político como os candidatos devem negociar previamente as contrapartidas da parceria, os limites de atuação, e as expectativas depositadas por ambos. Essa é uma forma de evitar ruídos e de gerar uma parceria prolífera durante a campanha eleitoral. É possível negociar como e onde o movimento pode usar a imagem do candidato (e vice-versa); a frequência de participação em reuniões e eventos; os grupos que serão mobilizados via candidatos e via movimento, para não gerar sobreposição, entre outros pontos que envolvem a relação.
- Incidência do movimento em um eventual mandato: em caso de vitória eleitoral, existem diferentes possibilidades – entre as quais, destacamos três:
- Zero incidência: o movimento eleitoral entende o que o seu papel é o de apenas fortalecer campanhas e não tem interesse em atuar ou influenciar de qualquer forma o trabalho do candidato eleito, confiando plenamente no seu trabalho. Esse foi o modelo adotado pela Bancada Ativista em 2016 – e assim foi construída a relação com o mandato de Sâmia Bomfim;
- Compromissos pontuais: São estabelecidos acordos claros em torno de pautas ou práticas específicas, que serão acompanhadas pelo movimento e em torno das quais ele terá incidência – sendo importante tornar públicos esses acordos, garantindo transparência aos eleitores;
- Participação direta no mandato: alguns membros do movimento integram a equipe do mandato. Esse foi o modelo adotado pela Bancada Ativista em 2018, na construção da Mandata Ativista após eleição da candidatura coletiva.
Vale dizer que existem movimentos políticos eleitorais que focam os seus esforços na promoção de um conjunto de candidatos sobre um recorte específico de perfil, como o Vote Nelas e o Vote LGBT, entre outros.
Partidos políticos
A relação com partidos políticos pode ser feita de diversas formas. Em 2016, a Bancada Ativista praticamente não se relacionou com os diretórios dos partidos, e sim com os candidatos que apoiou. Já em 2018, estreitou a relação com o partido por entender que seria importante e estratégico.
Algumas dicas importantes para se preparar para uma conversa de aproximação e construção de parceria, possivelmente envolvendo negociação em torno de apoios mútuos:
- Escolha bem o representante do partido com quem irá conversar. Entenda qual o seu papel, qual os seus valores, o que ele representa localmente;
- Estude o Estatuto e o Programa do Partido, além dos seus principais posicionamentos públicos em nível local e nacional, para ter certeza que o partido está minimamente alinhado aos valores do seu movimento e que uma aproximação pode fazer sentido a ambos. Caso a relação seja puramente utilitária (o movimento querendo legenda e o partido querendo mais votos), a chance de haver ruídos no futuro é grande;
- Apresente muito bem o seu movimento, por que ele agregará valor aos candidatos apoiados e, por consequência, fortalecerá os partidos envolvidos;
- Ao negociar ativos do partido, lembre que estes não se limitam a recursos financeiros, podendo incluir: tempo de rádio ou televisão; espaço nas redes sociais; produção de vídeos, sites, banners e outros materiais; espaço em eventos e atividades partidárias; apoio de figuras de grande visibilidade, entre outras coisas;
- Tenha em mente que o movimento oferta contrapartidas diretas ao partido, já que, ao fazer campanha, traz força de trabalho, visibilidade e, por consequência, ampliação da base eleitoral;
- Afirme a independência do movimento e, se a opção for pelo pluripartidarismo, reforce essa identidade na conversa, porque ajuda a garantir a autonomia do seu movimento.
Deixamos aqui dicas para você pesquisar a sua cena política eleitoral: CONFIRA A PUBLICAÇÃO COMPLETA DA BANCADA ATIVISTA:
Dica: seu cenário local