Por Maria Paz Aedo

O período mais intenso

Como em uma corrida, quando você está prestes a atingir a meta, a reta final é o período mais intenso da campanha. 

Nessa fase, já está definido qual parte do eleitorado escolheu seu candidato e qual parcela ainda está indecisa (esta última, geralmente, está em dúvida entre candidatos com os mesmos atributos ou conteúdos). Por isso, o desafio dessa etapa da campanha é “ativar” os votos comprometidos e atrair os indecisos. 

Dependendo de cada país, a reta final pode durar alguns dias ou algumas semanas. Em cada legislação, existem diferentes condições, que estabelecem quais são os atos de campanha (cartas, visitas e reuniões) e propaganda (atos publicitários em espaços públicos) permitidos durante o período. É importante que você esteja bem informado sobre essas condições, para evitar o risco de multas ou avaliações. 

Se tiver dúvidas, veja esse link

Hora de consolidar e conquistar

A reta final é o momento em que “todas as cartas estão na mesa”, tanto para consolidar os votos que já existem quanto para obter os que faltam, com todos os meios à sua disposição. Exige-se, também, o máximo empenho e dedicação das equipes.

Para fazer isso, você precisa: 

• Priorizar e coordenar ações;
• Fortalecer as redes e a equipe de campanha;
• Consolidar e obter votos;
• Cuidar da equipe de impacto;
• Definir uma agenda de debates e opinião pública de seu eleitorado;
• Diferenciar-se dos seus concorrentes.

Nas orientações a seguir, orientaremos você nesse processo, com dicas e sugestões que serão muito úteis para sua campanha. Vamos juntas?

Conteúdo atualizado em 13 de dezembro, de 2023.

Por María Paz Aedo

Essa organização é muito importante, mas, antes de começar, avalie como sua estratégia de campanha se desenvolveu até agora. Assim, você conseguirá identificar aquelas ações que tiveram um resultado mais bem-sucedido – e que exigem que você as fortaleça agora – daquelas que foram menos bem-sucedidas. 

Recomendamos, também, que você não improvise, pois não terá tempo para observar os resultados e corrigi-los. Esse período requer um uso muito eficiente dos recursos e energias disponíveis. Ou seja, se em todo esse tempo você não se apresentou com um megafone em praça pública, agora não é o momento de se arriscar, “para ver o que acontece”, entende? 

Eficiência

Priorize ações que usem a menor quantidade de energia e recursos (tempo, pessoas, dinheiro e materiais) e produzam os melhores resultados (alcance e impacto).

Menor desgaste

Evite ações que consumam energia e recursos com resultados fracos ou difusos. Por exemplo: conceder momentos de descanso e contenção é mais eficiente do que tentar produzir 24 horas por dia, sete dias por semana.

Maior sinergia 

“O todo é mais do que as partes”. 

Nesse período, busque fortalecer a articulação de suas ações e não apenas aumentar a quantidade. É hora de aproveitar ao máximo a relação entre ações aparentemente diferentes, para usar da melhor forma possível a energia e os recursos que existem – e sabemos que são poucos! 

Algumas ideias… 

Reuniões de bairro

Você pode organizar eventos com base nas demandas da comunidade, nos princípios / conteúdos de sua campanha e em algum fenômeno circunstancial (evite, porém, o oportunismo: isso pode ser contraditório e prejudicar todo o trabalho realizado). 

Por exemplo: se a sua campanha defende o direito ao reconhecimento do trabalho doméstico não remunerado, um espaço que ofereça dados concretos e contatos com redes de apoio (círculos de mulheres, escolas comunitárias e serviços sociais) pode ser uma boa oportunidade para a sua presença.

Redes sociais

Identifique as questões atuais, que estão relacionadas às suas propostas, e participe das conversas, posicionando seus atributos e conteúdos em diferentes redes e canais (lives, retuítes, Tik Tok, entre outros).

Materiais de campanha

Retire papéis e banners, leve-os a um ponto de reciclagem e divulgue esta ação nas redes sociais: é um exercício de alto impacto e cooperação.

Por María Paz Aedo

Nesta fase, você precisará levar suas redes ao mais alto potencial. Para isso, recomendamos que você siga estas etapas:

1. Organize seus contatos

É hora de gerenciar sua agenda, considerando:

• Sua disponibilidade (alta, média ou baixa);
• Tipo de contribuição a solicitar (tempo, materiais, acompanhamento ou ligação); 
• Sua carga de trabalho (sobrecarga, em equilíbrio ou baixa capacidade). 

Com base nessa avaliação, priorize colegas com alta disponibilidade e que estejam “em equilíbrio” ou abaixo de sua capacidade de contribuição. Reserve os altamente disponíveis, mas sobrecarregados, para as ações em que são realmente essenciais (por exemplo: porta-vozes ou gestão de crises).

Diagrama 1: Esquema para mapeamento de equipe

Tabela 1: Exemplo de revisão e reorganização da equipe, na reta final

3. Coordene sua equipe

Um erro comum de trabalho em equipe é fazer pedidos sem deixar claro aquilo que precisa. Diga o que você quer, direcione claramente para quem irá lhe atender, explique como você deseja e fale exatamente para quando você precisa. Evite, por exemplo, dizer “Eu estava pensando…”, “Será que…” ou “Deveríamos…”. Transforme esses desejos e suposições em pedidos da forma mais explícita possível. Não tenha medo de pedir ajuda: é para isso que servem seus aliados. 

Também é uma boa ideia formular o pedido, indicando as condições, caso o que foi solicitado não possa ser cumprido (se isso acontecer, o que faremos?). E é muito importante que a pessoa ou grupo a quem você faça a solicitação tenha capacidade para lhe atender. Por exemplo: pedir a alguém que está historicamente atrasado para reuniões para organizar eventos pode ser bem arriscado.

De qualquer forma, diga aos seus aliados porque a ajuda deles é tão importante e explique o risco que uma tarefa não cumprida pode representar na campanha, principalmente nesta fase crucial.

Exemplos:

• Estabeleça uma meta de seguidores, curtidas e compartilhamentos com a equipe de Comunicação. Com base nisso, peça a todas as companheiras que ativem suas redes para alcançar esses objetivos. 

• Estabeleça, com a Coordenadora de Mobilização, uma meta de contatos e apoiadores. Envolva as pessoas que se ofereceram para ajudá-la, fazendo ligações e/ou mandando mensagens para esses contatos, convidando-os a votar em você.

• Peça para a colega que ofereceu algum recurso (mobilização, local de encontro ou outros materiais) para levá-la ao local X, na hora Y.

Por Maria Paz Aedo

Na reta final, marcada por alto estresse e carga de trabalho, a capacidade de cuidar de nós mesmos é postada à prova.

É possível que as demandas das atividades nos obriguem a aumentar as horas de dedicação e subtrair o tempo de outras atividades, que são tão importantes ou essenciais para nós – como maternidade, trabalho remunerado ou serviço doméstico. Por isso, é fundamental criar estratégias de apoio e retribuição, não necessariamente forçadas, mas que diminuam o impacto e recompensem a entrega! 

Algumas ações “regenerativas” e de cuidado mútuo podem ser:

• Defina horários para comer (e até cozinhar) com sua família e amigos durante o dia;
• Crie sistemas para cuidar de crianças dentro da equipe, mobilizando voluntários e redes de apoio; 
• Implemente um espaço físico onde se possa descansar (um pátio ou um quarto), com a condição expressa de não se trabalhar neste local;
• Identifique, nas redes de apoio, a expertise de terapeutas tradicionais e complementares, a quem você possa recorrer, em caso de necessidade;
• Tenha frutas e lanches saudáveis ​​à mão;
• Defina os horários de início e término de sua rotina de trabalho, para enviar / receber chamadas e mensagens;
• Estabeleça a prática de agradecimento. A visibilidade e avaliação da participação de cada participante é essencial para sustentar a paixão e a energia;  
• Celebre as conquistas e o progresso. Por exemplo: organize uma reunião com todos os voluntários, antes da eleição, onde seja possível considerar e valorizar tudo o que foi feito. 

Também é importante, nesta dimensão, considerar-se como aprender. Assim como a vida, as campanhas têm uma alta margem de incertezas. O que trabalhou uma vez pode não funcionar depois. Esse rótulo é fundamental para evitar julgamentos mais duros. É importante avaliar o que está sendo feito e considerar o “erro” como espaço de aprendizagem. Em toda a caminhada, são permitidas boas doses de humildade e grandeza, ao mesmo tempo.

Não queremos que isso aconteça, mas as condições de estresse favorecem o abuso. É possível que você se sinta agredido ou magoado por alguém da equipe e, até mesmo, por visitantes externos. Ter um protocolo ou pelo menos um círculo de confiança, onde seja possível abrir essas conversas, com a finalidade de sigilo e respeito, é muito importante.

Conteúdo atualizado em 13 de dezembro, de 2023. 

Por María Paz Aedo

Neste período, você já tem uma base de eleitores conhecida e um cenário mais claro de pessoas indecisas. 

Para consolidar os votos que você já tem e pesquisar os que estão faltando, você precisa reservar um tempo para revisar todos os contatos com quem já falou, atualizando compromissos e pedidos, por meio de ligações e redes de mensagens. Estabeleça uma meta de ligações diárias e compromissos de votação por dia / semana, que seja conhecida por toda a sua equipe. Envolva voluntários nesta tarefa também.

Para ampliar a cobertura territorial da sua campanha, identifique, no mapa de seu município, cidade ou estado, os setores onde é necessário reforçar a sua participação. Organize as equipes para descentralizar as ações, marcar presença em vários lugares ao mesmo tempo e evitar cruzamentos ou duplicações. 

É necessário não economizar em publicidade e despesas de rede. Faça o possível para contratar anúncios em mídias virtuais, redes sociais, mídia local e de massa. 

Também pode ser interessante “materializar” algumas de suas propostas de campanha. Por exemplo: se você defende o direito à educação gratuita e de qualidade, organize uma ou várias “salas de aula gratuitas”, com temas de interesse do seu eleitorado. 

Tabela 2: Exemplos de ações para consolidar e conquistar votos na reta final

Envolva apoiadores de campanha

Para consolidar parceiros e captar esses votos decisivos, é muito importante envolver seus apoiadores na campanha, de acordo com o grau de comprometimento e alcance. Observando seu mapa de rede, você pode identificar três tipos de suporte, dependendo do grau de engajamento: 

• Alto engajamento – os que já tornaram público o seu apoio à sua candidatura;
• Médio engajamento – os que disseram que votarão em você, mas ainda não o tornaram público;
• Baixo engajamento – os que disseram que gostaram da sua proposta, mas você não sabe se eles realmente vão apoiá-la.

Os apoiadores de alto engajamento precisam ser convidados a participar animadamente das atividades de sua campanha. 

Em paralelo, é necessário atualizar seus apoiadores de médio engajamento com o convite para participar de sua campanha e pedir a eles – na medida do possível – que tornem público o seu apoio a você, tanto em suas redes sociais quanto em seus círculos de contatos.

Também é necessário atualizar o convite para seus apoiadores de baixo engajamento, enfatizando seus atributos e suas propostas. 

É necessário tomar alguns cuidados para cuidar e engajar seus apoiadores. 

Se tudo correr bem, você poderá ampliar a força de campo disponível para as atividades desta fase. Recomendamos organizar esse círculo de adeptos envolvidos em três categorias: 

• Chamada alta – líderes sociais, autoridades locais e figuras públicas;
• Chamada média – participantes de organizações e instituições locais; 
• Chamada baixa – apoio individual, que reúne familiares e amigos em pequena escala. 

Membros altamente populares, de chamada alta, são uma grande contribuição para divulgar seu conteúdo e propostas em uma escala que abrange e até excede seu território. Isso é fundamental para que você seja conhecida e que o seu nome “soe” entre as opções. Na reta final, esses apoiadores podem ser grandes aliados para os eventos de encerramento. 

Os apoiadores de chamada média podem abrir conversas, em seus espaços de influência, para atrair grupos relacionados à sua candidatura e que ainda estão indecisos. É importante pedir que falem sobre você, seus atributos e propostas em suas redes sociais e círculos de contato.

Você pode pedir aos apoiadores de chamada baixa que se comprometam a atrair “pelo menos mais um voto”, comprometendo outro membro da família e grupos de amigos. Neste caso, peça que o apoiador também prometa seu apoio nas mídias sociais. 

Eventualmente, um desses apoiadores desejará ou poderá se juntar à sua equipe de campanha. É importante que você possa escolher de que forma ele irá contribuir e saber o que será pedido de você. 

Por María Paz Aedo

Na reta final, é fundamental encontrar a relação entre a agenda pública e sua estratégia de conteúdo. 

Lembre-se de que o conteúdo da sua campanha é a linha editorial que toda a equipe deve seguir. Tudo o que eles publicam e respondem nessa fase deve servir para posicionar o conteúdo. É possível atualizar alguns, mas não inovar: nesta fase, não há tempo para abrir novos tópicos. 

Por exemplo: você pode aproveitar uma situação que lhe permite se posicionar nas redes sociais, tornando visível a relação entre aquela situação e seu programa de campanha. Ponto.

Embora a intensidade do período possa nos tentar a publicar e comentar tudo rapidamente, é importante ter sempre em mente a diferença entre dados, interpretações e propostas. As campanhas populistas procuram, intencionalmente, confundir interpretações com dados e fazer promessas infundadas. Isso é especialmente complexo em tempos de notícias falsas. Por isso, não se deve relaxar neste sentido, visando manter sua campanha dentro da ética.

Exemplo:

• Uma informação é a média anual de feminicídios em seu território ou país, na última década. Uma interpretação é dizer que o sistema patriarcal é responsável por essas mortes. É possível considerar ambos (os dados e sua interpretação), ficando clara a diferença. Assim, caso se depare com um argumento negacionista, recorra à veracidade dos dados. 
• Inversamente, podemos dizer: uma informação é o número de “grafites” feministas em monumentos urbanos. Uma interpretação é dizer que isso é um ato de vandalismo. É possível questionar a interpretação, adicionando outros dados e/ou outras interpretações.

Nesta fase, procuramos aumentar o impacto. Para isso, podemos recorrer a duas estratégias típicas da performance e da arte política: deslocamento e superidentificação.  

Exemplos: 

• Vídeo “I want to break free”, da banda Queen

• Campanha de “eletrodomésticos para homens” 

A superidentificação supõe levar uma premissa ao paroxismo, ou seja, ao seu ápice, até que se revele em seu sentido brutal. Nesse casos, exagere no discurso, para mostrar sua condição violenta ou absurda.

Exemplo: 

• Vídeo “The man”, da cantora Taylor Swift, em que ela se representa como um homem 

Considerando o contexto da pandemia, você pode usar qualquer uma dessas estratégias nas redes sociais ou em ações de rua, dependendo do nível de risco de exposição. A viralização da performance também faz parte da propaganda política.

Por Maria Paz Aedo

O que distingue você dos outros candidatos?

Nesta etapa, você deve deixar seus atributos e propostas de campanha mais claros do que nunca! 

Enfatize o que distancia você de seus concorrentes e a capacidade como alternativa. A diferenciação pode ser baseada tanto na oposição direta, enfatizando dicotomias; quanto na integração / transcendência, enfatizando a maior “riqueza” de seus atributos e propostas. A oposição implica confronto; integração / transcendência implica superação. 

Tabela 3: Exemplos de diferenciação

Afetos e emoções em processos eleitorais

Historicamente, associamos o trabalho político, especialmente o eleitoral, às questões de decisão, pragmatismo e metas. No entanto, um aspecto fundamental das campanhas tem a ver com os afetos e emoções que estão no jogo.

É muito importante distinguir o “carimbo” emocional da campanha na reta final. No caso de campanhas de mulheres comprometidas com a democracia, a equidade e a justiça social precisam empoderar o eleitorado, convidá-lo a ressoar com essas propostas, empolgá-lo e inspirá-lo. É preciso fazer com que reconheçam, na candidatura feminina, uma oportunidade de ser e ver refletido o que anseiam. Isso é épico em uma campanha!

Campanhas que invocam o medo ou que instalam a ideia de um inimigo a ser atacado geram uma resposta emocional poderosa, mas fugaz: não permite construir um país, mas, sim, aspirar à eliminação daqueles que são considerados “culpados”. Esse foco redutor foi uma marca de campanhas como a de Trump e Bolsonaro. Diante disso, pode-se oferecer uma visão ampla, crítica e esperança do mundo ao mesmo tempo, com foco na participação, escuta e cocriação. 

Essas afeições e emoções, que mobilizam a campanha, precisam de um correlato interno. Caso contrário, a equipe sofrerá. Se em seu programa você promete apoiar o trabalho de cuidado, é muito importante ter práticas de cuidado mútuo dentro das equipes e redes que apoiam. 

Embora seja normal – e muito humano – ter contradições e paradoxos, promover a coerência entre discurso e prática é um desafio político muito importante, tanto durante a campanha quanto depois dela. 

[citação] Sobre a autora: Socióloga, doutora em educação e coach ontológica. Atua na formação de lideranças sociais em temas de ecologia política e ecofeminismo; e na pesquisa sobre instituições ambientais, afetos, resistência e artivismo. Colaborou em vários processos de campanha política e eleitoral no Chile, além de participar ativamente dos movimentos feministas e ambientalistas. [/citar]