Por María Paz Aedo
Na reta final, é fundamental encontrar a relação entre a agenda pública e sua estratégia de conteúdo.
Lembre-se de que o conteúdo da sua campanha é a linha editorial que toda a equipe deve seguir. Tudo o que eles publicam e respondem nessa fase deve servir para posicionar o conteúdo. É possível atualizar alguns, mas não inovar: nesta fase, não há tempo para abrir novos tópicos.
Por exemplo: você pode aproveitar uma situação que lhe permite se posicionar nas redes sociais, tornando visível a relação entre aquela situação e seu programa de campanha. Ponto.
Embora a intensidade do período possa nos tentar a publicar e comentar tudo rapidamente, é importante ter sempre em mente a diferença entre dados, interpretações e propostas. As campanhas populistas procuram, intencionalmente, confundir interpretações com dados e fazer promessas infundadas. Isso é especialmente complexo em tempos de notícias falsas. Por isso, não se deve relaxar neste sentido, visando manter sua campanha dentro da ética.
Exemplo:
- Uma informação é a média anual de feminicídios em seu território ou país, na última década. Uma interpretação é dizer que o sistema patriarcal é responsável por essas mortes. É possível considerar ambos (os dados e sua interpretação), ficando clara a diferença. Assim, caso se depare com um argumento negacionista, recorra à veracidade dos dados.
- Inversamente, podemos dizer: uma informação é o número de “grafites” feministas em monumentos urbanos. Uma interpretação é dizer que isso é um ato de vandalismo. É possível questionar a interpretação, adicionando outros dados e/ou outras interpretações.
Dicas:
Nesta fase, procuramos aumentar o impacto. Para isso, podemos recorrer a duas estratégias típicas da performance e da arte política: deslocamento e superidentificação.
O deslocamento consiste em alterar a relação entre símbolos e significados em imagens, campanhas ou discursos, que nos parecem questionáveis (por exemplo: publicidade sexista), oferecendo uma leitura diferente ou inusitada.
Exemplos:
- Vídeo “I want to break free”, da banda Queen
- Campanha de “eletrodomésticos para homens”
A superidentificação supõe levar uma premissa ao paroxismo, ou seja, ao seu ápice, até que se revele em seu sentido brutal. Nesse casos, exagere no discurso, para mostrar sua condição violenta ou absurda.
Exemplo:
- Vídeo “The man”, da cantora Taylor Swift, em que ela se representa como um homem
Considerando o contexto da pandemia, você pode usar qualquer uma dessas estratégias nas redes sociais ou em ações de rua, dependendo do nível de risco de exposição. A viralização da performance também faz parte da propaganda política.
Sobre a autora: Socióloga, doutora em educação e coach ontológica. Atua na formação de lideranças sociais em temas de ecologia política e ecofeminismo; e na pesquisa sobre instituições ambientais, afetos, resistência e artivismo. Colaborou em vários processos de campanha política e eleitoral no Chile, além de participar ativamente dos movimentos feministas e ambientalistas.