Por Anna Claudia dos Santos
1. Guia de Geomaketing Político: conceito, função e uma nova forma de apresentação de dados eleitorais
O geomarketing é a utilização da inteligência geográfica para potencializar aspectos do marketing, facilitando, assim, a tomada de decisões e o alcance de mais impacto. Os dados geográficos, como os censos populacionais, econômicos, ambientais e políticos, que estão localizados em diversas bases de dados, podem ser traduzidos em mapas, o que permite uma análise espacial de fenômenos e tendências. Portanto, por meio de geotecnologias disponíveis de forma gratuita, podemos transformar dados eleitorais em estratégias políticas, que irão auxiliar no planejamento, organização e tomada de decisões assertivas durante a sua campanha. Isso irá garantir uma estratégia eficaz na concentração de esforços e recursos, além de um melhor desempenho dos resultados.
Aqui vão alguns exemplos de dados que podem ser mapeados: eleitorais (todos os dados sociodemográficos); perfil de concorrentes; distribuição econômica, social e ambiental da sua região; e perfis econômicos dos municípios (agricultura, pecuária, mineração, turismo e muitos outros).
Segundo Costa (2005), o Geomarketing Político é utilizado desde a campanha de Bill Clinton, nos Estados Unidos, em que o antigo presidente fez uma varredura de dados e mapeamento em suas regiões de influência, destacando pontos fortes e negativos de seus candidatos, os associando a problemáticas locais.
2. Descrição
Podemos definir o Geomarketing Eleitoral como um conjunto de técnicas de análise de dados geográficos do eleitorado de uma determinada região, realizada por meio de geotecnologias. Esse processo, portanto, é capaz de auxiliar campanhas eleitorais no planejamento e execução de estratégias.
Conteúdo a ser trabalhado dentro do Geomarketing
- ASSERTIVIDADE: com as informações geradas no mapa, principalmente sobre o perfil do eleitorado, a candidata terá elementos para uma tomada de decisão mais assertiva e estratégica.
- DESEMPENHO DOS ADVERSÁRIOS: com o uso do Geomarketing Eleitoral, a candidata conhecerá melhor seus concorrentes e poderá se antecipar, tendo, assim, um melhor desempenho durante a campanha.
- SABEDORIA NA UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS: de forma eficiente e eficaz, a ferramenta direciona corretamente os recursos, permitindo que você os concentre em determinadas regiões, visando um melhor desempenho eleitoral.
- ESTRATÉGIAS DE MARKETING: com o Geomarketing Eleitoral, as estratégias de comunicação e marketing passam a ser essenciais dentro de uma cidade, deixando ainda mais claros os seus potenciais resultados.
O primeiro passo para a estrada do Geomarketing Político é a pesquisa nos repositórios de dados, que podem ser obtidos tanto nos portais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) quanto nos diferentes portais dos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs). De forma geral, essas informações estão em sua forma bruta, precisando de um polimento para serem melhor aproveitadas. Aqui, trazemos um catálogo, para melhor compreensão dos dados de 2020. Dentro desse portal, encontramos: Candidatos – Bens de Candidatos – Coligações – Vagas – Motivo da cassação – Fotos de candidatos – Redes sociais de candidatos – Proposta de governo, dentre outros aspectos relevantes.
Existem, ainda, outros repositórios de dados:
- O primeiro deles é o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que é o órgão responsável por apresentar todas as informações estatísticas oficiais do Brasil, mostrando os indicadores de maneira atualizada, por meio de pesquisas com coleta e análise de dados. Além disso, a plataforma oferece um banco de dados público com os mais variados temas, tais como: estatísticas sobre geração de empregos, produção agropecuária e industrial, quantidade de moradores do país, informações ambientais, de renda e de escolaridade, entre outros.
- O Portal Brasileiro de Dados Abertos também pode ser consultado. É um portal do governo, onde as pessoas podem encontrar dados e informações coletivas, relativas a diferentes temas da Administração Pública, de maneira gratuita.
- O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) é uma plataforma de banco de dados pública, com uma base de dados macroeconômicos, financeiros e regionais do Brasil. Lá, você encontra um catálogo de séries e fontes, dicionário de conceitos econômicos, histórico das alterações da moeda nacional e dicas sobre métodos e fontes utilizadas. Tudo isso de forma gratuita. Os principais temas incluídos em seu banco de dados públicos são: população, emprego, salário e renda, produção, consumo e vendas, contas nacionais, finanças públicas, preços, juros, moeda e crédito, balanço de pagamentos e economia internacional.
3. Trabalhando dentro do ambiente SIG
No ambiente do Sistema de Informação Geográfica, também conhecido como SIG, temos um sistema de hardware, software, informação espacial, procedimentos computacionais e recursos humanos que permite e facilita a análise, gestão e representação da informação geográfica. Por esse motivo, os dados políticos ou demográficos coletados devem ser levados até esses softwares, visando a elaboração dos mapas de interesse.
Entre os diversos softwares disponíveis, destacamos o ArcGIS e QGIS como os mais utilizados, sendo o segundo de livre e fácil acesso, podendo ser baixado aqui. Nesse ambiente, transformamos os dados planilhados em shapefiles (poligonais com informações retiradas de um banco de dados), para a espacialização. Este guia auxiliar poderá ajudar você durante o uso da ferramenta.
Para exemplificar, tomaremos como base as informações sobre as reeleições em 2020, isto é, os candidatos que conseguiram mais quatro anos de mandato. Essas informações estão disponíveis na base de dados do TSE. Como podemos ver no mapa abaixo, no ano de 2020, foi observado um número de reeleições inferiores a 50% (Figura 1):
Figura 1. Mapa dos municípios que tiveram reeleição em 2020.
Se quisermos analisar o impacto entre a reeleição e o número de votos, por exemplo, podemos realizar um mapa de calor, para demonstrar regiões de interesse – o que também pode ser feito dentro do software escolhido (Figura 2).
Figura 2. Espacialização dos municípios em que ocorreram reeleição, em 2020, e um cluster (arquitetura de sistema capaz combinar vários computadores para trabalharem em conjunto), indicando a ocorrência de partidos dominantes.
Também existe a possibilidade de extrair o número de votos por zona eleitoral e fazer uma extrapolação via bairro ou estado. Como exemplo, podemos citar um trabalho realizado para a cidade de Curitiba, em que o candidato a prefeito solicitou o número de eleitores votantes (Figura 3). É importante ressaltar que esses dados foram cruzados com realidades socioeconômicas de cada localidade, mostrando a necessidade de políticas sociais, apontadas de maneira distinta e por região, e não de forma generalizada.
Figura 3. Distribuição da quantidade de votos do candidato “X” na eleição para a Prefeitura de Curitiba.
Outras possibilidades
Veja algumas ideias e estratégias para a sua campanha:
1. Mapa de voto de candidatas com o mesmo perfil
- O primeiro passo é acessar o banco de dados do TSE.
- Na sequência, liste as informações principais, por meio dos filtros, que funcionam em camadas: ano, UF e partido, conforme o objetivo da busca.
- Você verá que o gráfico apresentará quantitativos de gênero (masculino, feminino ou não informado) dos(as) candidatos(as) a cargos eletivos na eleição selecionada. Nosso foco é o gênero feminino. Portanto, devemos cruzar com outros dados em: “Tabelas detalhadas (cruzamento de dados)”.
- Para delimitarmos os perfis das candidatas eleitas anteriormente, podemos cruzar os dados de faixa etária, cor/raça e grau de instrução.
- Ao baixarmos a tabela e os dados filtrados, no próprio Excel (ícone Inserir> Mapas> Mapa coroplético), podemos mapear dados e dinamizar informações, lembrando que, para a espacialização nesse ambiente, sempre temos que levar em consideração as informações a nível estadual. Para caráter municipal/zona eleitoral, as informações terão que ser trabalhadas em ambiente SIG. Exemplo: o número de candidatas negras que foram eleitas em 2020, quando percebemos uma grande diferença entre os estados (1 + 85) e não tivemos prefeitas negras, apenas algumas vices, e, na sua grande maioria, vereadoras. Infelizmente, isso comprova uma baixa representatividade de mulheres negras nas câmaras municipais.
1.
2. Mapa de voto do seu principal concorrente
- Antes de tudo, será necessário obter o levantamento dos resultados das votações anteriores. Para isso, é preciso consultar, em detalhe, a apuração por município e zona/seção, no banco de dados do TSE.
- Depois, será preciso baixar uma planilha detalhada de votação nominal/partido, por município e zona – votação por seção eleitoral.
- Nesta etapa, poderá ser elencado o número de votos de cada candidata, por zona/município ou estado.
- A partir dos dados planilhados, eles poderão ser espacializados para uma melhor estratégia de alcance de dominação partidária, considerando, por exemplo, em determinada região de interesse.
Como exemplo, fizemos um levantamento do ranking das candidatas que tiveram maior número de votos em todo o país e seus respectivos partidos.
Sobre a autora: Anna Claudia dos Santos é uma ativista pela Educação e Direito da Mulher. Doutora em Ciências Ambientais, mestre em Ecologia e bióloga. Profissional com experiência em Gestão de Sustentabilidade, Geoprocessamento, Análises Ambientais com atuação no Monitoramento e Performance de Indicadores/KPIs, Programas de Responsabilidade Socioambiental e ESG.
Referências
Brasil. Tribunal Superior Eleitoral. Eleições no Brasil: uma história de 500 anos / Ane Ferrari Ramos Cajado, Thiago Dornelles, Amanda Camylla Pereira. – Brasília: Tribunal Superior Eleitoral, 2014. 100 p. ; il.