Por Letícia Sabbatini
Muitas são as formas de negar às mulheres o seu espaço na política. Neste guia, abordaremos uma dessas estratégias: a violência política de gênero na Internet. Conforme pesquisa do Instituto AzMina, InternetLab e Instituto Update, diversas são as ofensas contra candidatas nos meios digitais. Dos mais de 3 mil tweets ofensivos analisados durante as eleições de 2020, cerca de 40% foram direcionados a mulheres. Nesses ataques, termos como “burra” e “lixo/esgoto/podre”, por exemplo, são comuns e foram organizados contra as mais diversas candidatas. Da esquerda à direita, a violência política de gênero é uma realidade. Tendo isso em vista, explicaremos esse fenômeno, o comportamento dos haters e as estratégias (psicológicas, tecnológicas e legais) para lidar com esses ataques. Também informaremos como e quando denunciar.
Muitas são as formas de negar às mulheres o seu espaço na política. Neste guia, abordaremos uma dessas estratégias: a violência política de gênero na Internet. Conforme pesquisa do Instituto AzMina, InternetLab e Instituto Update, diversas são as ofensas contra candidatas nos meios digitais. Dos mais de 3 mil tweets ofensivos analisados durante as eleições de 2020, cerca de 40% foram direcionados a mulheres. Nesses ataques, termos como “burra” e “lixo/esgoto/podre”, por exemplo, são comuns e foram organizados contra as mais diversas candidatas. Da esquerda à direita, a violência política de gênero é uma realidade. Tendo isso em vista, explicaremos esse fenômeno, o comportamento dos haters e as estratégias (psicológicas, tecnológicas e legais) para lidar com esses ataques. Também informaremos como e quando denunciar.
“Bom dia, dePUTAda marmita de ministro”; “Por que não vai fazer bolo pro seu neto, vovó senil?”; “Gorda e com o QI negativo”; “Está precisando de viagra na sua casa?”. Enviadas a partir de diferentes mídias digitais, essas mensagens foram direcionadas a mulheres que ocupam e/ou procuram ocupar cargos políticos eletivos no Brasil.
A esse fenômeno damos o nome de violência política contra mulheres ou violência política de gênero – são ataques que, a partir de perfis distintos, procuram legitimar o afastamento de mulheres do espaço político. Se a candidata for uma pessoa com deficiência ou ainda negra, quilombola, indígena, transsexual ou lésbica, por exemplo, esses ataques podem ser ainda piores.
Na outra ponta dessas agressões, está quem as pratica: os haters, pessoas que atacam e difamam alguém, utilizando a internet para disseminar o ódio contra o seu alvo. Assim, espalham mentiras, julgamentos e ameaças, condenando ideias, atitudes e pessoas. Embora o objetivo seja o mesmo (atacar, violentar e prejudicar), o seu modo de atuação pode variar. O uso de piadas e memes, por exemplo, pode mascarar uma violência, fazendo com que ela pareça duvidosa (será que foi isso mesmo que ele quis dizer?). Já a utilização de hashtags pode convidar outros haters a participarem da mesma agressão. Em outras ocasiões, são xingamentos isolados e mais explícitos, que podem ser identificados com rapidez.
Independentemente da roupagem assumida, trata-se de sexualizar, menosprezar as capacidades intelectuais e reduzir a importância dessas mulheres no espaço público. É o caso de esbravejar, por vezes de forma sutil e por outras de forma mortal: esse lugar não é seu!
Cuidando de si: estratégias psicológicas para lidar com os haters
O que a candidata pode fazer para não se deixar atingir por essas agressões?
1) Tenha uma rede de apoio. Estar perto de pessoas queridas, como familiares e amigas, permite que você converse sobre medos, inseguranças e fragilidades durante a campanha. Ter esse espaço de escuta ativa é um passo essencial para lidar com as mais diversas dificuldades.
2) Não tente argumentar com os haters. Você pode estar preparada para responder a dúvidas e críticas. No entanto, como se preparar para ataques que difamam a sua família, o seu corpo e a sua atuação na política? Lembre-se: haters não querem debater, apenas atacar.
3) Se tiver a possibilidade, afaste-se desses comentários, delegando a alguém da equipe de comunicação e/ou de sua confiança a tarefa de filtrá-los.
4) Embora os ataques sejam pessoais, cumprem um objetivo político: afastar mulheres da esfera pública. Lembrar disso pode fortalecer você.
5) Procure, também, auxílio psicológico de profissionais. Caso não seja possível pagar por esse atendimento, alguns institutos, organizações e universidades oferecem o serviço gratuitamente.
6) Cerque-se de outras mulheres políticas, pois as suas experiências terão pontos de conexão. Para encontrá-las, você pode participar de movimentos, coletivos e organizações, como a ONG Elas no Poder. Construir uma rede de apoio com quem também conhece essa violência lembrará você de que não está sozinha.
Combatendo os haters no seu próprio terreno: possibilidades tecnológicas
Além disso, algumas ações podem ser tomadas nas plataformas onde os ataques acontecem. Veja as dicas:
1) Não dê engajamento a esse tipo de conteúdo. Não os responda! Haters não procuram um debate de ideias e a sua resposta faz com que o ataque circule ainda mais.
2) Esteja atualizada sobre os termos de cada plataforma, para compreender as melhores maneiras de se proteger em cada uma delas. No caso do Instagram, há, ainda, o Guia de Segurança para Mulheres na Política, com dicas direcionadas às candidatas.
3) Haters podem ser insistentes. Tendo isso em vista, é possível bloquear os seus perfis, fazendo com que o agressor não consiga mais realizar tais agressões a partir do perfil bloqueado.
4) Também é possível denunciar os comentários e publicações dos haters. Cada plataforma possui uma política para lidar com esses casos. Twitter, Facebook e Instagram, por exemplo, permitem a denúncia de comentários e publicações que atacam ou assediam alguém.
5) É possível restringir totalmente os comentários da sua conta, ou ainda, parcialmente, permitindo que apenas pessoas seguidas ou mencionadas por você possam comentar em uma publicação. Essa estratégia já foi adotada por parlamentares que procuraram restringir ondas de haters. No entanto, para a candidata, essa ação deve ser bem calculada, pois ela impede, também, comentários construtivos.
Terra sem lei? Conheça canais de denúncia, como e quando denunciar
As ações acima constituem paliativos, ou seja, formas de restringir a circulação dos ataques. Porém, é importante dizer que as denúncias legais também são possíveis. Você acha que está respaldada por alguma lei? Sim, por várias!
1) A Lei 14.192/21, por exemplo, diz respeito à violência política contra mulheres, incluindo, no Código Eleitoral, o crime de “assediar, constranger, humilhar, perseguir ou ameaçar, por qualquer meio, candidata a cargo eletivo […]”.
2) Também é possível acionar o Código Penal, que criminaliza a calúnia, ou seja, o ato de atribuir à vítima uma falsa acusação de crime, como acusações inverídicas de corrupção. Nos casos de difamação, isto é, ações que causem prejuízos à honra e à imagem da candidata, o Código Penal também pode ser acionado. Já o crime de injúria engloba ofensas que ferem a dignidade da pessoa por meio, por exemplo, de xingamentos.
3) Se o ataque tiver ameaças, é possível denunciar, uma vez que o Código Penal criminaliza o ato de “ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave“.
Para denunciar, é preciso comparecer a uma delegacia e registrar um Boletim de Ocorrência. Quando o ataque é classificado como violência política de gênero, é possível acionar o Ministério Público Eleitoral. Em casos de crimes de ódio contra mulheres, a Polícia Federal também pode ser contatada, como indica a Lei Lola (13.642/18). Em todas as situações, é preciso que a candidata tenha como provar a ocorrência dos ataques. Por isso, o ideal é registrar as agressões e perfis dos agressores, por meio de capturas de tela, armazenando-as em local seguro.
Para saber mais sobre os tipos de agressões online e sobre o que fazer em cada caso, é possível conferir a guia “Ameaças e assédio online – o que fazer?”.
Sobre a autora: Letícia Sabbatini é mestre, doutoranda em Comunicação (UFF) e jornalista (UFRRJ). Integra o Time de Pesquisas da ONG Elas no Poder, além dos Laboratórios de Combate à Desinformação e ao Discurso de Ódio (DDoS) e de Comunicação, Culturas Políticas e Economia da Colaboração (coLAB/UFF). Tem experiência com campanhas políticas de mulheres e se interessa por temas da Comunicação Política, tratando de tecnologias digitais, ativismos e violência política contra mulheres.