Por Thami Santos
— Mãe, você se lembra de ter votado em alguma mulher nas últimas eleições? — Nas últimas? Peraí, deixa eu pensar… Ah! Teve a Marta (eleita prefeita de São Paulo, em 2001). Lembro de ter votado nela, sim. E não tenho certeza, mas acho que votei na Dilma também. Continuei o diálogo, com a seguinte pergunta: — E o que você acha de ter mulheres como suas representantes na política? — A política acaba incluindo mais homens, porque acham que eles têm mais autoridade. Mas a mulher também tem! Ela é mais compreensiva, entende mais a gente. Eu preferiria que houvesse mais mulheres na política. — Ela respondeu.
Hoje cedo, liguei para minha mãe. Durante a conversa, perguntei a ela:
Contexto:
Minha mãe tem 51 anos, nasceu em Pernambuco e veio para São Paulo, em 1989, em busca de uma vida melhor. Mãe de 4 filhas e dona de casa, nunca teve um contato profundo com questões políticas. Geralmente, vota em quem os vizinhos ou meu pai dizem.
Nos últimos anos, conversar sobre política com amigos ou familiares tem sido motivo de muitas desavenças. A sensação de desconfiança e de que “o outro” está sempre prestes a impor sua verdade como única faz com que muitas pessoas evitem quaisquer assuntos relacionados à política.
Quando liguei para a minha mãe e conversei um pouco sobre “as dificuldades de mulheres serem eleitas e terem voz ativa nas tomadas de decisões políticas”, uma questão tão presente no nosso país, pensei na importância desse assunto como pauta para conversas ao redor de uma mesa. Este é um tema que, mesmo sem perceber, nos afeta diariamente e precisa ser inserido, de forma natural, no dia a dia.
Pensando nisso, esta guia apresenta, de forma simples e didática, respostas sobre como podemos convencer mais pessoas a votarem em mulheres e dicas para dialogar com amigos e familiares.
Mas, antes, precisamos entender um pouco mais sobre o contexto histórico da luta pela inclusão da mulher na política brasileira. Onde estão as candidatas? Qual tipo de diálogo eu posso / devo usar nesse processo de convencimento?
Bora iniciar essa jornada?
Breve contexto histórico
No dia 8 de setembro de 1928, uma notícia inusitada sobre o Brasil estampava as páginas do famoso jornal “The New York Times”: Alzira Soriano é a primeira mulher eleita para um cargo executivo no país. Com 60% dos votos, venceu as eleições para prefeita na cidade de Lajes, no Rio Grande do Norte.
Após quatro anos, aconteceria a promulgação do Código Eleitoral de 1932, pelo então presidente Getúlio Vargas. O voto feminino foi finalmente estabelecido como lei no Brasil, mas, apesar do avanço que a assinatura de uma nova lei representava para o país, esse ato escondia a continuidade de uma luta severa, que ainda teríamos que enfrentar: alcançar a isonomia entre homens e mulheres nos cargos políticos.
Noventa anos se passaram desde que nós, mulheres, conseguimos o direito ao voto. Todavia, contrariando a lógica de que mulheres votando resultaria em mais mulheres eleitas, ainda somos a minoria dentro do espaço político. Um estudo realizado pela União Interparlamentar, organização internacional responsável pela análise dos parlamentos mundiais, mostrou o ranking de participação de mulheres na política nacional: de 192 países, o Brasil ocupa a 142ª posição.
Vivemos um grande desafio, pois a ilusão de que a política é lugar somente para homens ainda é real. Somos a maioria do eleitorado, mas a minoria eleita. Reverter esse cenário não é fácil, mas é totalmente possível. Afinal, quantas soluções não podemos encontrar por meio do diálogo, não é mesmo? Por isso, falar sobre a ocupação do público feminino dentro dos espaços de poder é extremamente necessário.
Refletir sobre essa questão, no entanto, certamente nos faz pensar: como faço isso? Ou: por onde começo?
Existem diversos caminhos para debater e convencer pessoas que conhecemos a votarem em mulheres nestas eleições. Porém, antes de introduzir esse assunto com sua mãe, sua tia, seu pai ou seus amigos, algumas ações são importantíssimas. Veja:
Os três argumentos essenciais
Não adianta dizer apenas que “mulher vota em mulher”. Nesses debates, é necessário apresentar argumentos consistentes e mostrar a existência de candidatas com projetos de campanhas que atendam à população em suas diferentes esferas, como, por exemplo: saúde, educação e geração de renda.
E se, durante o diálogo, surgirem dúvidas sobre como saber se uma candidata específica é ideal para representar você ou a pessoa com quem está discutindo?
Outra coisa fundamental é fazer a pessoa que está ouvindo entender como um voto em uma mulher pode tornar a nossa política mais democrática e representativa. Para isso, você pode se basear nos seguintes argumentos:
REPRESENTAÇÃO: Quem entende melhor uma mulher do que outra mulher? Ter mais de nós dentro do espaço político é conseguir enxergar pessoas que REALMENTE nos representem.
COMPETÊNCIA: Existem diversas candidatas com determinação, inteligência, competência e capacidade de liderança, que podem ocupar cargos políticos.
NOVO CICLO: Desde que ouvimos falar de política no Brasil, os homens são a maioria. Precisamos quebrar essa barreira e dar voz às mulheres que desejam nos representar na política.
Convidar amigos e familiares para eventos (on-line ou presenciais), em que candidatas que você conhece e admira participem, também é uma estratégia muito eficaz. O contato mais próximo, seja em eventos ou nas redes sociais, contribui para o processo de identificação entre eleitora e candidata, além de poder descobrir quais projetos se conectam com a ouvinte.
Perfeito, Entendi! Mas por onde eu começo?
Existem várias formas de iniciar essa discussão. Tendo como base a conversa que tive mais cedo com minha mãe, uma mulher que ainda não tinha pensado na possibilidade de votar em uma candidata nestas eleições, criei um checklist que vai guiar você nesse processo de convencimento. Bora conferir?
Fique atenta à linguagem
1 – Converse sobre a inclusão das mulheres na política de forma leve e, se você for a pessoa que detém as informações, seja o mais didática possível. Nada de termos muito difíceis (dependendo de quem é a/o ouvinte). O processo de convencimento deve ser um espaço aberto e inclusivo.
Ofereça caminhos
2 – Apresente candidatas que você conheça e converse sobre suas propostas. Cada candidata tem uma trajetória diferente e ela pode ou não se conectar com a eleitora. Por isso, entender qual é o posicionamento político da pessoa (e opinar sobre ele) é importantíssimo para que a mulher encontre uma candidata que defenda suas pautas.
Não desanime
3 – Você pode obter muito sucesso ao final desse diálogo, assim como eu tive com a minha mãe, após apresentar algumas candidatas que entraram nas suas possibilidades de voto nestas eleições. Mas saiba que, nem sempre, esse será o resultado.
Vivemos tempos difíceis, em que a difusão de informações falsas e a desconfiança em pessoas relacionadas à política estão cada vez mais presentes. Mas uma simples conversa é uma semente plantada! E de uma coisa você pode ter certeza: de pequenas sementes nascem grandes frutos.
E aí, curtiu esse material? Aprofunde-se um pouco mais sobre a participação feminina nos espaços de poder:
1 – O que é violência política de gênero e por que precisamos falar mais sobre isso
2 – Plataforma ajuda eleitoras a encontrarem suas representantes ideais
3 – Mães na política: a consciência nas escolhas que podem transformar o jogo
4 – De liderança comunitária à candidata política
5- Você está pronta para escolher quem vai te representar? – Im.pulsa (impulsa.voto
Conteúdo revisado em 12 de dezembro de 2023.
Sobre a autora: Thami Santos é estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal de Minas Gerais. Atua no projeto de extensão Fórum da Mulher, do Vale do Jequitinhonha, que luta pela inclusão de mulheres na política da cidade. É professora de redação do Cursinho Popular Emancipa, social mídia e escritora apaixonada pela arte. Nas horas vagas, produz conteúdos em suas redes sociais e reúne amigas para conversar sobre questões políticas no café da tarde.
Sobre a autora: Thami Santos é estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal de Minas Gerais. Atua no projeto de extensão Fórum da Mulher, do Vale do Jequitinhonha, que luta pela inclusão de mulheres na política da cidade. É professora de redação do Cursinho Popular Emancipa, social mídia e escritora apaixonada pela arte. Nas horas vagas, produz conteúdos em suas redes sociais e reúne amigas para conversar sobre questões políticas no café da tarde.