Existem inúmeras formas de voluntárias ajudarem em uma candidatura – já te falamos algumas por aqui. Uma forma bem inovadora é a de transformar a própria casa em um comitê voluntário de campanha. Já ouviu falar nisso? Essa é a premissa do projeto Casas de Marina, uma iniciativa criada em 2010, e replicada nas campanhas à presidência da República de Marina Silva em 2014 e em 2018.
Fica por aqui que vamos te explicar direitinho o que é esse projeto e como reproduzir essa ideia na sua campanha! E vale a pena? Vale demais! É uma estratégia muito legal para candidaturas de baixo custo porque amplia a presença da candidata em áreas onde o partido não tem sede própria, por exemplo.
E o que são as Casas de Marina? Bom, basicamente, eleitoras se oferecem voluntariamente para transformar o próprio lar em um comitê de campanha para a candidata. Nesses locais são distribuídos materiais de propaganda, são coletadas doações e também servem como espaço para receber eventos, rodas de conversa e reuniões para apresentação do projeto da candidata aos moradores daquele bairro.
“Acreditamos que as nossas redes começam nos nossos laços mais próximos. Então, por que não começar falando da candidata com a nossa família, nossos vizinhos, dentro da nossa casa? Criando, assim, uma rede de apoio para a campanha”, Rafael Santos, coordenador do projeto Casas de Marina em 2018.
Como fazer
Para pôr em prática esse projeto, a campanha da Marina organizou um espaço no site da campanha exclusivo para voluntárias se registrarem e cadastrarem suas casas como um comitê voluntário. Neste endereço, também era possível procurar a Casa de Marina mais próxima da sua casa para participar das reuniões e encontros.
Ao fazer o cadastro no site, a voluntária recebia acesso à materiais como banners, para indicar que ali era uma Casa de Marina, além de um manual com diretrizes para a anfitriã da casa. Nele, havia algumas dicas de atividades que poderiam ser feitas no espaço. Eram elas:
- Rodas de conversa: convidar amigas e amigos, familiares e vizinhas e vizinhos para irem ao local para encontros informais. A dica aqui era realizar o encontro do lado de fora da casa, assim pessoas da rua poderiam participar também.
- Caminhadas ou bicicletadas: convidar pessoas para participarem de uma caminhada ou bicicletada pelo bairro que comece e termine na Casa de Marina. Elas faziam o trajeto segurando cartazes da campanha com bicicletas adesivadas.
- Incentivo à doação: convidar pessoas para doarem para a campanha. As anfitriãs de cada Casa de Marina tinham acesso a um manual de como pedir doação para a candidata.
- Distribuição de materiais de campanha: ir até a um comitê oficial de campanha para recolher materiais que pudessem ser distribuídos na casa. As anfitriãs também recebiam as versões digitais dos materiais para imprimirem por conta própria, respeitando as regras da legislação eleitoral.
Segundo Rafael Santos, que trabalhou no projeto em 2010 e 2014 e foi coordenador da iniciativa em 2018, as pessoas recebiam material de campanha, mas também eram convidadas a produzir seus próprios materiais, imprimir em casa, fotografar reuniões, fazer vídeos e publicar nas redes sociais usando as hashtags da campanha. Assim, esse conteúdo também poderia ser replicado nas páginas oficiais da candidata.
“Dessa forma, nós alcançamos vários objetivos. A gente educava a pessoa em como fazer campanha nas suas redes sociais e também gerava conteúdo orgânico para a rede oficial da campanha. Tudo isso de forma muito natural, fazendo essas pessoas se sentirem parte do processo”, Rafael Santos, coordenador do projeto Casas de Marina em 2018.
Além do manual das Casas de Marina, a equipe oficial da campanha também criou manuais do voluntário e da militância digital. Assim, as voluntárias ficavam cientes das regras da Justiça Eleitoral do que poderia ou não ser feito e também alinhadas com as diretrizes da campanha.
Exemplos de materiais
A maioria dessas voluntárias chegava até esse projeto por meio das redes sociais ou de outras apoiadoras da campanha. Segundo Rafael, por essa razão o projeto foi tomando uma dimensão de forma muito orgânica e, por isso, muitas outras candidatas e candidatos adversários tentaram reproduzi-lo.
A dica aqui é que se crie uma ligação com a eleitora e com o eleitor, que se fale em pautas, que ouça o que elas e eles têm a dizer, engajando essas pessoas de verdade. Apenas criar o projeto, divulgá-lo nas redes sociais por meio de impulsionamento pago não vai adiantar. Ninguém deixará as portas da casa aberta durante todo o período eleitoral em prol de uma campanha que não acredita ou não se identifica.
“Projetos semelhantes não deram certo porque não foram orgânicos. ‘Vou investir dinheiro, vou impulsionar e vai dar certo’. Não, não é assim que funciona. As redes sociais são um trabalho muito sério e precisam ser entendidas como uma ferramenta impulsionadora, mas não substituem a mobilização de pessoas, o cuidado, o saber ouvir. O que precisamos criar no Brasil é uma cultura para evitar esse uso de robôs, de agressão, de só colocar dinheiro nas redes sociais. Falem pautas, cheguem nas pessoas”, Rafael Santos, coordenador do projeto Casas de Marina em 2018.
Outra dica é que a candidata se organize para visitar essas casas de acordo com a sua agenda de campanha. Por se tratar de uma campanha a nível nacional, Marina não pôde visitar todas as casas. Mas a equipe sempre tentava encaixar visitas às casas que estavam próximas a outros compromissos oficiais da candidata.
Por se tratarem de estruturas variadas, algumas residências de voluntárias eram apartamentos ou até de chão batido. Essas visitas não eram grandes eventos. Ao contrário, geralmente eram mais intimistas, como um café com o núcleo da família.
RESULTADOS PRÁTICOS
Em 2010, mais de 2.500 pessoas abriram suas moradias para divulgar a campanha de Marina. Em 2014, a iniciativa teve mais de 5 mil casas pelo Brasil. Em 2018, esse número foi de 1.200.
Marina Silva não foi eleita, mas recebeu 1.069.577 de votos.