Antes de mais nada, precisamos deixar claro que o termo cocandidata faz parte da inovação política das candidaturas coletivas ‒ e não é reconhecido oficialmente. Porém, como toda inovação, precisa ser criado e apropriado por um campo de atores cada vez mais amplo, para depois passar a receber a atenção de órgãos competentes e conquistar pessoas dispostas a disputar o seu reconhecimento legal.
As cocandidatas são, portanto, as pessoas que compõem a chapa coletiva como figuras públicas e terão suas imagens expostas como tal. Participarão da construção da candidatura coletiva de forma horizontal, ajudando a pautar os temas de trabalho, as bases eleitorais, as articulações políticas, a comunicação e a identidade do projeto como um todo. Farão política em nome da candidatura e são partes igualmente centrais e legítimas da construção.
Vale dizer que a própria pessoa com o nome na urna é também uma cocandidata, ocupando o mesmo espaço de construção apesar das particularidades formais de seu papel apresentadas acima. Ou seja: politicamente, todas as cocandidatas têm a mesma relevância daquela que é formalmente candidata.
É indicado que as cocandidatas sejam figuras públicas ou pessoas dispostas a se tornarem figuras públicas, reconhecidas pela sua luta e atuação social. Também é indicado que estejam confiantes na construção da sua cocandidatura, entendendo que receberão questionamentos o tempo inteiro e deverão estar aptas a mostrar na prática como a candidatura coletiva é uma construção sólida, embasada e com potencial real de impacto positivo.
Uma das principais forças de uma candidatura coletiva vem do fato de um grupo de cocandidatas ser capaz de alcançar redes mais amplas e diversas do que uma pessoa sozinha ‒ agregando representantes legítimos de múltiplas pautas e territórios, e promovendo a mesma campanha em diferentes lugares ao mesmo tempo. Cocandidatas ativistas são pessoas que estão participando ativamente na criação de uma nova forma de representação política, ao mesmo tempo que estão aprendendo como fazer campanhas inovadoras e de baixo orçamento. Se a chapa for eleita, também aprenderão na prática o funcionamento interno da política institucional e se tornarão mais capazes de incidir na cena política.
Acordos para evitar conflitos
É impossível listar uma totalidade de acordos que consigam dar conta da vida real e dos possíveis problemas de relacionamentos, expectativas frustradas, acordos descumpridos, dentre outros inúmeros desafios que cada jornada vai gerar. Porém, mesmo diante dessa impossibilidade, vale evidenciar que acordos precisam ser pensados antes de problemas surgirem justamente para prevenir dores de cabeça e construir uma base comum mais sólida para a candidatura ‒ pensando em pontos centrais que evitem rupturas do grupo já nos seus primeiros passos.
A empolgação da campanha eleitoral e a potência da chapa coletiva arriscam levar o grupo a pular essa etapa dos acordos, o que pode gerar grandes dissonâncias durante o processo da própria campanha e exaurir energias do coletivo em momentos desafiadores. Por isso, é recomendado que acordos já comecem a ser desenhados antes do lançamento da campanha, assim que forem decididos os nomes que participarão da candidatura coletiva ‒ e a partir disso, sejam complementados sempre que necessário.
Aconselha-se que os acordos sejam pensados para dois momentos: para a campanha eleitoral e para o possível mandato. Seguem abaixo sugestões de pontos a serem discutidos:
- Formatos de tomada de decisão, inclusive para casos de conflito1;
- Limites éticos individuais e do coletivo;
- Processo para escolha do nome que vai para a urna;
- Desejos, expectativas e capacidades pessoais de cada uma das pessoas envolvidas;
- Pautas, territórios e públicos que serão priorizados (e que não serão endereçados) pela candidatura, e como elas se dividem entre as cocandidatas;
- Forma de relacionamento com o partido político pelo qual a candidatura será lançada;
- Qual será o uso de recursos financeiros captados para fazer campanha;
- Como será contratada e/ou mobilizada de forma voluntária a equipe de campanha;
- Como funcionará o gabinete caso a candidatura seja eleita ‒ especialmente, divisão de cargos, salários, emendas parlamentares e responsabilidades;
- Qual será o papel das cocandidatas na campanha e no mandato ‒ se será um papel apenas político ou se desempenharão funções técnicas e operacionais;
- Uso da imagem dos indivíduos ‒ se todas as imagens de campanha retratarão a coletividade, se podem ser usadas fotos individuais ou de subgrupos, etc;
- Medidas de autocuidado e de cuidado coletivo.
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