Trajetórias coletivas de transformação social e política.
Maria de Lourdes Andrade de Souza, também chamada de Lia ou Lia Esperança, ficou conhecida pelo seu trabalho como líder comunitária na Vila Nova Esperança. A comunidade que sofria com uma ordem de despejo por estar em uma área de proteção ambiental, se tornou uma referência em sustentabilidade.
Construindo diferentes parcerias e sempre com base na coletividade e na escuta da comunidade, Lia liderou diferentes projetos. Uma horta comunitária, uma cisterna, a regularização da rede elétrica, a coleta seletiva do lixo são alguns exemplos.
Em 2014, Lia recebeu da Câmara Municipal de São Paulo, o Prêmio Milton Santos na categoria Consolidação de Direitos Territoriais e Culturais. Em 2020, Lia foi candidata a vereadora nas eleições da cidade de São Paulo, conquistando 4.066 votos. O incetivo veio de um grupo de voluntárias e voluntários que tinham trabalhado na Vila Nova Esperança e já conheciam o trabalho da Lia.
No dia da Liderança Comunitária, a Im.pulsa ouviu a Lia sobre suas motivações para ser candidata e movimentar a política. Lia também compartilhou sua visão sobre o potencial de impacto das mulheres periféricas na vida das pessoas.
Como você se tornou líder comunitária?
Lia: Eu me tornei líder por uma necessidade. Eu cheguei na comunidade Vila Nova Esperança em 2003. Em 2006 eu descobri que a gente tinha uma ordem de despejo para tirar todas as famílias. Tudo que eu tinha, eu tinha investido para morar aqui. Então, comecei a pensar o que fazer e dei início ao trabalho para mudar essa decisão da justiça. Eu sempre falo que cai de paraquedas, que nunca tinha imaginado ocupar este lugar. Mas aconteceu por necessidade e estou líder até hoje.
Em 2020, você foi candidata a vereadora na cidade de São Paulo, conquistando 4.066 votos. Como foi tomar essa decisão? Quais foram as suas motivações?
Lia: A Duda, o Fernando e a Nina, pessoas que conheci através do meu trabalho na Vila Nova Esperança, me trouxeram a proposta de ser candidata a vereadora e eu pedi um tempo para pensar. Observando as necessidades da minha comunidade, resolvi que seria sim uma boa oportunidade. Ser vereadora me traria mais possibilidades de ajudar não só a Vila Nova Esperança, como outras comunidades. Então, isso trouxe toda a minha motivação de ser candidata. Foi a forma que eu vi de trazer voz para dentro das comunidades e das periferias.
Como você escolheu as bandeiras da sua campanha?
Lia: Eu escolhi as minhas causas de acordo com as necessidades que eu vejo na comunidade. Eu vejo no dia a dia a necessidade olhar mais para habitação, meio ambiente, educação e saúde. Não são necessidades só minhas ou da minha comunidade, são necessidades gerais de São Paulo e das cidades vizinhas. São causas que a gente precisa defender. Direitos que não podem faltar na vida do ser humano.
Como você construiu a sua equipe e a sua rede de apoio?
Lia: A equipe da campanha foi criada com pessoas que eu já conhecia e que compartilham de um pensamento parecido com o meu. Pessoas que não olham apenas para si mesmas, olham para toda a população. Por isso escolhi essa equipe, porque compartilhamos valores. Foi uma equipe muito boa. Conseguimos trazer para equipe voluntários que eu já conhecia pela parceria com a ONG TETO na comunidade, e eu já conhecia o trabalho e o caráter dessas pessoas.
Como ser líder comunitária contribuiu para a construção da sua campanha?
Lia: Muitas pessoas já conheciam meu trabalho como liderança comunitária e isso me ajudou bastante, aproximou as pessoas do que estávamos propondo e construindo. Foi super importante contar com a rede de amigos que construí na minha trajetória.
Quais foram os principais aprendizados e desafios?
Lia: Eu sempre falo que para você tirar uma rosa, você sempre vai pegar primeiro nos espinhos. E na campanha foi assim. Tive um grande aprendizado e um desafio maior ainda, porque para mim era uma coisa nova e eu não entendia tão bem questões políticas e de campanha. Aprendi um pouco, mas não dá tempo de aprender tudo. É um processo e eu ainda tenho muito para aprender sobre política. E talvez o maior desafio foi entender que existe uma pressão quando você está neste lugar político para mudar a sua forma de ser, de falar e se posicionar. Eu não quero isso, eu quero continuar sendo a Lia.
Para você, qual o impacto de mais mulheres periféricas na Política?
Lia: Com mais mulheres periféricas na política teremos um mundo melhor. Quem está na periferia, vivendo junto do povão, é quem sabe suas necessidades. E essas são as mulheres periféricas. Eu penso que cada vez mais mulheres periféricas na política vão trazer um impacto positivo para toda a cidade, para todas as pessoas.
O que você diria para outras mulheres líderes comunitárias que estão pensando em se candidatar?
Lia: Eu falaria para as mulheres líderes comunitárias que estão pensando em ser candidatas para elas não ficarem pensando. Vão logo! A gente precisa com urgência de mudanças e se elas ocuparem a política teremos a mudança que a gente precisa.