Por Mariana Fonseca
No Brasil, o direito ao voto – ainda com muitas restrições – foi conquistado pelas mulheres há 90 anos. Contudo, os debates acerca da sub-representação delas na política só entraram com maior vigor na vida pública no período de redemocratização nos 1980. O contraste, sempre evidente, mas que antes só era notado por organizações de mulheres, atualmente gera incômodo em vários setores da sociedade. As imagens e dados que evidenciam a discrepância na quantidade de homens que ocupam cargos públicos e a de mulheres nas mesmas posições, já não são recebidas com apatia.
Ocupamos, vergonhosamente, a 9a colocação entre os países latino-americanos quando se trata da paridade entre homens e mulheres na política. Apesar de sermos 52% da população brasileira, totalizamos apenas 9% dos cargos do Executivo nacional, 15% do parlamento nacional e 12% das prefeituras. Entre 193 países ranqueados pela Inter-Parliamentary Union, o Brasil está em 153o no que se refere à presença de mulheres no parlamento.
Quando falamos em participação política e da presença das mulheres nos espaços de poder, precisamos levar em conta outros fatores além da possibilidade do voto. Antes de nos questionarmos se o eleitorado brasileiro é resistente ao voto em mulheres, é preciso olhar se existem, verdadeiramente, chances reais delas se elegerem. O que isso quer dizer? Quer dizer que as mulheres antes mesmo de se candidatarem começam a enfrentar obstáculos responsáveis pela sub-representação feminina.
A começar pela violência sofrida cotidianamente por elas e a ideia, retrógrada, de que os espaços de tomada de decisão não são lugares para as mulheres. Se elas superam esses preconceitos e chegam às candidaturas, ainda precisam enfrentar os boicotes dos partidos que, por vezes, não distribuem o fundo partidário de maneira devida, nem o tempo de propaganda política e transformam candidaturas femininas em candidaturas laranja.
Contudo, está evidente que, para além da importância da representatividade das minorias sociais na política, a presença de mulheres tem impacto positivo na democracia quando elas demonstram maior responsabilidade com o uso do dinheiro público, ao proporem mais políticas públicas e projetos de lei que visem a superação de desigualdades e ao inovarem nas práticas políticas. Foi pensando nesse paradoxo entre a baixa presença de mulheres na política e importância delas para o avanço da democracia, que #ElasNoPoder, correalizadora da plataforma Im.pulsa, se uniu a Vote Nelas, Engajamundo e Vamos Juntas na Política, e mais 40 outras organizações parceiras, para lançar a Super Campanha #VEMVoteEmMulheres! A Im.pulsa é uma das iniciativas que apoiam essa mobilização.
A Super Campanha tem como objetivo incentivar o voto em mulheres nas eleições de 2020. Para isso, estamos criando conteúdos e mobilizando as mídias sociais com o intuito de mudar a atitude do eleitorado, evidenciando a importância desse voto. Além das postagens que objetivam romper os estereótipos que rondam as mulheres em cargos públicos, também informamos acerca do voto em pessoas que realmente defendam nossos interesses e que possam trazer uma renovação real para a política brasileira.
A # VEMVoteEmMulheres também quer estimular, além do voto, outras formas de apoio às candidaturas femininas. Sabendo das dificuldades de financiamento para candidaturas femininas, elaboramos uma cartilha incentivando a cultura de financiamento e apoio à campanhas políticas. Também destacamos o poder de uma grande mobilização; é super importante a presença de apoiadores engajados, interagindo com as campanhas nas mídias sociais e divulgando o perfil das candidatas e suas propostas.
A gente quer trazer para perto não só aqueles/as eleitores/as que já são simpáticos/as à ideia de votar em mulheres, mas também aqueles/as que estão desacreditados/as com a política brasileira. Acreditamos que para trazer novos ares para a política é preciso mudar realmente a cara de quem está nos representando, eleger mulheres comprometidas com essas mudanças é um passo importantíssimo.
A Super Campanha tem cartilha, tem vídeo, tem quiz, tem até mensagem no zap para enviar naquele grupo da família! Tudo com o objetivo de incentivar o voto em mulheres e mostrar que não só mulheres votam em mulheres, mas também homens, jovens que vão votar pela primeira vez, quem vai votar pela última vez, quem não quer mais nem saber de política… Está na hora participar da verdadeira transformação da política no Brasil!
Saiba mais sobre a Super Campanha.
Participe da nossa mobilização, vamos levar essa ideia para todo mundo!
#VEMVoteEmMulheres!
Mariana Fonseca
Mestranda e formada em ciência política, sou graduanda em letras-português, ambas pela UnB. Atualmente atua como pesquisadora em representação e participação social. E está coordenadora de conteúdo da #ElasNoPoder.
**Os textos e artigos publicados com assinatura no nosso blog não traduzem, necessariamente, a opinião de Im.pulsa. São redigidos por parceiras ou pessoas interessadas que encaminham tais conteúdos para avaliação e a publicação obedece ao propósito de estimular o debate sobre a representatividade e participação de mais mulheres na política.
Fontes:
https://brasil.elpais.com/internacional/2020-09-08/michelle-bachelet-dos-12-paises-que-melhor-enfrentaram-a-pandemia-nove-sao-dirigidos-por-mulheres.html
https://www.metropoles.com/brasil/politica-brasil/municipios-governados-por-mulheres-sao-apenas-7-da-populacao
https://www.cartacapital.com.br/politica/brasil-esta-entre-os-piores-em-participacao-de-mulheres-no-governo/
https://g1.globo.com/olha-que-legal/noticia/paises-onde-mais-mulheres-estao-no-governo-tem-menos-corrupcao-diz-estudo.ghtml