Mães na política: a consciência nas escolhas que podem transformar o jogo
25 de maio de 2022
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Por Marina Helou
Eu estou entregando este texto com uma semana de atraso. A Lara está passando pelo estirão de crescimento dos dois anos e precisando mais de mim e meu marido, que compartilha comigo a responsabilidade com as crianças, está viajando a trabalho.
Por que trago isso? Por ser exatamente o meu assunto aqui: maternidade e carreira política. Como conciliar? O que dá certo? O que significa maternidade e política?
Há dois pilares claros nestas questões: as pautas da maternidade devidamente representadas neste espaço e a experiência de ser mãe e estar na política
Mães e representatividade política
Não é surpresa nenhuma que, pela baixa representatividade das mães, nossas pautas não são prioridades na construção de políticas públicas. No Brasil, nós mulheres somos 52% da população e apenas 13% dos cargos eletivos. Nossa participação na política é recente e ainda muito baixa. A representação da pauta da maternidade é mais incipiente ainda. Ainda que grandes políticas já batalham com essa necessidade há tempos: Marina Silva como deputada estadual não teve direito à licença maternidade, sob ameaça de perda de mandato e Benedita da Silva lutou no Congresso por um direito tão básico, a briga por espaço nesse meio masculino não permitia assumir este papel materno. A complacência com as ‘mãezinhas’ seria insuportável.
Na nossa sociedade ainda colocamos as mães em um campo impossível. Endeusadas e esvaziadas. Reconhecidas, pero no mucho. Somos celebradas e ao mesmo tempo demitidas – quase 50% das mães perdem o emprego em menos de um ano após o retorno da licença maternidade, segundo pesquisa realizada pela FGV. Restaurantes, festas, celebrações, mercado de trabalho e política são espaços para mães e crianças? Não.
A pauta da maternidade
A própria pauta da maternidade não tem suporte nos principais campos políticos que disputam o poder. Os partidos, comandados por homens, nem sequer compreendem as múltiplas dimensões da questão. Mas na minha experiência, mesmo movimentos de ativismo político ou de participação não valorizam minimamente a pauta das mães. Pelo menos não até seus membros virarem mães.
A pandemia trouxe muita clareza para isso. Crianças e mães, no contexto em que vivemos, são as pessoas 100% responsáveis pela geração e cuidado com a vida; foram as mais prejudicadas. Nossas decisões desconsideram crianças e mães a ponto de voltarmos aos trabalhos, mas as escolas permanecerem fechadas. Como faz? A ponto de as grávidas serem o último grupo de risco a conseguirem a prioridade na vacina, e o Brasil o país do mundo com maior índice de mortalidade de mulheres grávidas.
Ou seja, o campo para as pautas da maternidade é gigantesco. Existem muitas coisas a serem feitas com grande potencial de impacto. Em uma breve reflexão: a garantia de direitos desde o pré-natal, o fim da violência obstétrica, equalização do direito a amamentação exclusiva com a licença maternidade, creche de qualidade, mercado de trabalho flexível, planejamento familiar, prevenção de gravidez não planejada, fim a maternidade compulsória, equalização de responsabilidades parentais, valorização, remuneração e suporte ao trabalho imenso que é gerar e criar a continuação da humanidade.
O desafio é grande, mas o potencial de impacto positivo é gigantesco. Ao trazermos consciência à atuação pelas pautas da maternidade transformamos a sociedade e o futuro. Colocamos no centro a economia do cuidado, a maternidade e as crianças.
E para isso precisamos de mais mães na política!
Precisamos de mais mães na política
Sabemos que são múltiplas as experiências da maternidade. Porém, independentemente de como você lida com a sua a maternidade, a política brasileira lerá você da mesma forma: mãezinha, fofa, ‘meio café com leite’, meio você deveria estar em casa. E saber disso é ótimo para que nós mães nos preparemos estrategicamente para este desafio.
E para potencializar a atuação política sendo mãe é muito importante ter consciência sobre as nossas escolhas. Entender sobre como queremos ser mãe nos possibilita desenhar a estratégia de como conciliar com a atuação política. Entender sobre sua realidade de suporte e rede de apoio possibilita entender o que é possível com esta estratégia.
Eu decidi que as minhas prioridades na vida são família e trabalho. Com isto, claro, eu sei que não abro mão de ser uma mãe presente para os meus filhos pequenos. Ainda que custe abrir mão de algumas agendas políticas – ao mesmo tempo que me dá tranquilidade de às vezes não estar presente por agenda de trabalho sabendo que meu balanço se compensa.
A consciência desta escolha me possibilitou ter tranquilidade de negar o convite a disputar uma vaga no Congresso Federal por entender que agora não cabe na minha vida. Mas também tenho a certeza que viajar toda semana será necessário na campanha à reeleição e meus filhos ficarão bem em uma rede de suporte cuidadosamente construída.
Engravidar durante o mandato, sair de licença maternidade, amamentar; todas estas atuações foram possíveis pela consciência que eu tinha das minhas escolhas. Tem um custo, tem um ônus. Mas está dentro das minhas prioridades e tudo bem.
A maternidade é potente e pode ser a chave da reconstrução que o Brasil e a política precisam. Seja por suas pautas centrais em uma sociedade que busca acabar com as desigualdades, seja pela forma de fazer. E quanto mais consciente for este caminhar, para a centralidade da pauta e para a nossa maternidade, mais efetivas seremos.
E mãe é mesmo a melhor coisa do mundo. A política bem que está precisando de mais mães para melhorar.
Sobre a autora: Marina Helou é Deputada Estadual em São Paulo pela Rede Sustentabilidade
danyelle
Dany Fioravanti é comunicadora - ativista e periférica - com 14 anos de experiência em causas como desigualdade, gênero e diversidades, educação ambiental e participação política. Trabalhou em projetos sociais no Brasil e no Equador. Foi Assessora Especial de Comunicação da Secretaria de Políticas e Promoção da Mulher da Cidade do Rio e, atualmente coordena a Im.pulsa. Dany também é Especialista em Políticas do Cuidado com perspectiva de gênero pelo CLACSO.
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