3 mulheres trans e suas propostas na política latino-americana.
31 de março de 2023
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Conheça três congressistas trans do México, Chile e Brasil, e suas propostas para toda a sociedade.
“Permita que eu fale, não as minhas cicatrizes”
A frase do rapper brasileiro, Emicida, na música “Amarelo” junto com as artistas drag e trans, Pabllo Vittar e Majur, nos ressoa no contexto político latino-americano. Muitas vezes as mulheres trans na política só ganham espaço na mídia quando sofrem algum tipo de violência, seja dentro ou fora dos espaços políticos. Porém, quem vem ocupando esses espaços de decisão tem muito mais a falar do que a violência vivida, que não é pouca em um mundo carregado de preconceitos e machismo excludente. E sim, toda violência contra uma pessoa trans tem que ser denunciada, mas ela não pode ser e não é sua única voz.
“É curioso, porque eu sou travesti, porque sou transexual, a sociedade quer me limitar ao debate especificamente LGBT. Carrego no corpo a agenda LGBT, mas sou professora. Dou aulas há mais de 20 anos, então nossa pauta principal é a educação, junto com a questão ambiental, sou ambientalista”, Duda Salabert, deputada no Brasil.
As mulheres e homens trans que chegam à política pautam as suas vidas e das diversidades, mas também querem criar políticas de educação, saúde, assistência, economia, meio ambiente, segurança pública e todos os aspectos que afetam nossas vidas como pessoas diversas que somos: cis, trans, não binária, homem, mulher, negra, indígena, com deficiência…
Pronta para saber um pouco mais sobre três mulheres trans e suas iniciativas que movimentam a política na América Latina?
Salma Luévano – Deputada no México
Salma Luévano é natural do estado de Veracruz e é empresária do setor de restaurantes, estilista profissional e ativista social há mais de 20 anos. Além disso, ela é presidente da Associação Juntos pelo Caminho da Diversidade A.C. em Aguascalientes, México.
Seu ativismo foi fundamental para obter as primeiras Cotas Arco Íris no México, além de liderar alguns litígios estratégicos para a inclusão de grupos vulneráveis, a fim de reconhecer os direitos das pessoas não binárias no sistema regulatório eleitoral mexicano.
Foi eleita em 2021 como deputada plurinominal pelo distrito federal 2 de Aguascalientes e atualmente preside a comissão de Diversidade da Câmara dos Deputados, além de ser membro das comissões de Justiça e Relações Exteriores.
Sua mais recente iniciativa na Câmara propõe estabelecer que não será possível participar de nenhuma candidatura eleitoral popular, ser votada ou votado em todos os cargos eleitorais populares, ou ser indicado ou nomeado para qualquer cargo, se o candidato responder por crimes contra vida, violência familiar, violência familiar ou doméstica equiparada, violação da privacidade sexual.
Emilia Schneider – Deputada no Chile
Emilia Schneider nasceu em Santiago em 1996. Completou seus estudos primários e secundários no Colégio Latinoamericano de Integración. Estudou Direito na Universidade do Chile.
Filiada ao Partido Comunes, do qual foi vice-presidenta, iniciou sua carreira política em organizações sociais ligadas ao movimento feminista e estudantil. Em 2018, ela foi porta-voz da Coordenadoria 8M e do maio feminista. Em 2019, foi eleita a primeira mulher trans na presidência da Federação Estudantil da Universidade do Chile.
Em 2021, foi eleita deputada pelo 10º distrito, que compreende as comunas de Santiago, Providencia, Ñuñoa, Macul, San Joaquín e La Granja, Região Metropolitana, representando o Partido Comunes. Ela obteve 26.180 votos, sendo a primeira pessoa trans a ser eleita deputada no Chile.
Atualmente, faz parte do partido Convergência Social e integra as comissões de Educação, Direitos Humanos e Povos Indígenas e Mulher e Igualdade de Gênero da Câmara dos Deputados e Deputadas.
Recentemente, a Câmara aprovou por 146 votos o projeto de lei “Eu cuido e estudo”, iniciativa de Emilia Schneider e Camila Rojas, que busca conciliar os estudos e as responsabilidades familiares de estudantes grávidas, mães e pais de estudantes, bem como de cuidadores para pessoas dependentes ou deficientes. O projeto está agora no Senado.
Erika Hilton – Deputada no Brasil
Erika nasceu em Franco da Rocha, na região metropolitana de São Paulo, em 1992. Aos 14 anos foi morar com os tios evangélicos que a encaminharam à igreja para ser “curada” da transexualidade. Aos 15 anos, ela foi expulsa de casa por causa de sua identidade de gênero. Morando nas ruas, ela não tinha outra alternativa senão a prostituição. Aos 21 anos voltou a morar com a mãe, retomou os estudos e concluiu o ensino médio.
Na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), iniciou um curso de pedagogia e gerontologia e aderiu ao movimento estudantil, fundando um curso pré-vestibular para mulheres trans e travestis. Em 2015, iniciou uma mobilização online pelo direito das pessoas trans a um nome social.
Seu primeiro cargo na política foi em 2018 no mandato coletivo do Bancada Ativista, em São Paulo. Em 2020, Erika foi a mulher mais votada para vereadora em São Paulo, onde foi a primeira mulher negra e trans a presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Em 2022, foi eleita deputada federal por São Paulo com 256.903 votos, sendo a nona candidata mais votada do estado.
É vice-líder da Federação do PSOL e da REDE, suplente na Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher e titular da Comissão de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial.
É autora/coaturora de 9 projetos de lei apresentados em 2023, entre eles: projeto para prioridade nas investigações de homicídios que tenham como vítimas crianças e adolescentes; projeto para instituir licença remunerada às vítimas de violência doméstica e familiar, “Licença Maria da Penha”; projeto para criação do Memorial Brasileiro da Resistência Negra, Indígena e Popular e um projeto para criar diretrizes que fomentem a construção de cidades resilientes às mudanças climáticas.
Diversidade e Democracia
A inclusão e a representação de grupos historicamente excluídos na política são fundamentais para o fortalecimento da democracia. A diversidade é importante porque permite que diferentes perspectivas e experiências sejam levadas em consideração na tomada de decisões, o que ajuda a evitar a exclusão de certas vozes e promove a equidade.
“O silenciamento de mulheres, minorias religiosas e étnicas, comunidades indígenas, pessoas com deficiência, defensores dos direitos humanos e jornalistas é um impedimento para a criação de sociedades saudáveis. A democracia simplesmente não pode sobreviver, muito menos florescer, na ausência de espaço cívico” – António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas.
Sobre a autora: Dany Fioravanti é uma comunicadora ativista com 13 anos de experiência e pós-graduanda em Políticas de Cuidado e Gênero pela CLACSO (Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais). Trabalhou na ONG TECHO, na Secretaria de Políticas e Promoção da Mulher do Rio e está coordenadora de comunicação na Im.pulsa.
Dany Fioravanti é comunicadora - ativista e periférica - com 14 anos de experiência em causas como desigualdade, gênero e diversidades, educação ambiental e participação política. Trabalhou em projetos sociais no Brasil e no Equador. Foi Assessora Especial de Comunicação da Secretaria de Políticas e Promoção da Mulher da Cidade do Rio e, atualmente coordena a Im.pulsa. Dany também é Especialista em Políticas do Cuidado com perspectiva de gênero pelo CLACSO.
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